Manter-se atualizado na área de feridas é uma necessidade constante para quem trabalha com pele. No entanto, alguns artigos demonstram onde muitos começaram.
Um desses clássicos é o artigo de revisão publicado por Mandelbaum e colaboradores (2003). Trata-se de um estudo brasileiro amplamente citado em dissertações, teses e publicações da área. Apesar de ter mais de duas décadas, algumas definições e conceitos são utilizados até hoje.
O artigo apresenta uma revisão abrangente dos processos de cicatrização, abordando seus múltiplos aspectos, e reforça a necessidade de uma atuação multidisciplinar que contemple o paciente em sua totalidade.
Uma lesão no tecido cutâneo é caracterizada pela descontinuidade do tecido, que pode ter diversas causas. O processo de cicatrização é a tentativa do corpo de reestruturar o tecido lesado e recuperar a barreira física que temos contra os patógenos. O artigo descreve de forma didática as fases do processo cicatricial, que ocorrem de maneira ordenada, sendo elas:
1 - coagulação (ou hemostasia);
2 - inflamação (ou fase inflamatória);
3 - proliferação (ou fase proliferativa);
4 - contração da ferida;
5 - remodelação (fase de remodelação).
Além disso, destaca os fatores que podem interferir na cicatrização, como a idade, o estado nutricional, a existência de doenças de base, alterações cardiocirculatórias e de coagulação, quadros infecciosos sistêmicos e uso de drogas sistêmicas.
O artigo já introduzia, à época, o conceito de individualização do cuidado com feridas, abordando a importância da seleção criteriosa dos recursos terapêuticos conforme as características da lesão e as necessidades do paciente.
Entre os destaques, está a discussão sobre os então chamados “curativos inteligentes”, que representavam uma inovação tecnológica. Mandelbaum et al. apontam o desafio, ainda atual, de escolher o produto mais adequado em meio à crescente diversidade de opções disponíveis no mercado.
A proposta dos autores permanece válida: considerar a necessidade do paciente, a avaliação clínica da ferida, a disponibilidade de produtos e, principalmente, a integração de um cuidado multidisciplinar.
Após mais de 20 anos da publicação deste artigo, seus conceitos ainda permanecem sendo utilizados. Acredita-se que por tratar-se de um artigo de fácil acesso e de conteúdo explicativo disponível na língua brasileira, participou da introdução do tema para diversos profissionais que hoje são especialistas em feridas.
Apesar dos temas abordados serem inovadores na época de publicação, devemos entender que as novas recomendações podem diferir do publicado no ano de 2003, mas vale a pena revisar por relembrar as bases conceituais que sustentam as práticas contemporâneas.


Leia o artigo na íntegra:
Mandelbaum, Di Santis & Mandelbaum. Cicatrização: conceitos atuais e recursos auxiliares. An bras Dermatol, Rio de Janeiro, 78(4):393-410, jul./ago. 2003.

Enfermeira
Mestre em Ciências Fisiológicas com enfoque na Fisiologia da Pele
Redatora Científica do CQC